A aventura ( V )

Continuando (...)

No dia 4 de Fevereiro de 1974, uma segunda-feira, pelas 8:30 horas começámos a formar já na qualidade de soldados-recrutas alunos pilotos/soldados-recrutas cadetes pilotos. Havíamos de formar mais umas quatro ou cinco vezes nesse dia, uma das quais para receber o primeiro Pré relativo ao mês de Janeiro. (nunca hei-de perceber esta mania da tropa para fazer formaturas).

Chamados pelo número, um a um, recebemos um envelope que depois teríamos de devolver para ser usado no mês seguinte, com a quantia de 41$00 (vinte cêntimos de euro). Nos meses de recruta que se seguiriam o pré passaria a ser substancialmente melhorado para 571$50 (dois euros e oitenta e seis cêntimos). Julgo que havia uma diferença entre este Pré e aquele que era recebido pelos cadetes, mas não o sei quantificar.

Estava iniciado o período de instrução que seria preenchido pela recruta (até ao Juramento de Bandeira) algum tempo depois complementado com as aulas teóricas de pilotagem (que antecederam o baptismo de voo aos comandos de um avião militar) e ainda a abordagem às praxes ligeiras feitas pelos alunos dos cursos anteriores que se encontravam na BA1. Dizia-se que as praxes dos cadetes eram menos ligeiras dada a proximidade das suas camaratas às dos senhores alunos que estavam a terminar o Chipmunk.

Os próximos três meses e meio de Recruta seriam preenchidos pelos exercícios físicos, pelas marchas diurnas e nocturnas, pelas disciplinas teóricas militares, pela Ordem Unida, pelo manejamento de armas (G3 e Walther), pela carreira de tiro e pela especialidade máxima que era rastejar nos estábulos até que os macacos de recruta passassem de azul a castanho.

O próximo mês de Instrução de Pilotagem feita nos barracões da Linha da Frente seria dedicado ao estudo e testes das diversas disciplinas do curso e ao manejo dos pára-quedas que teríamos de usar quando começássemos a voar.

Foram dias difíceis repartidos pelo esforço físico, pela adaptação à coisa militar (não esquecer que nos preparávamos para ir à guerra do Ultramar), pela confrontação com a disciplina - que para a grande maioria de nós era coisa nova - e pelas praxes que nos reduziam à qualidade de Infras. Foram também dias de muitos copos, de desenfianços e, principalmente, de muitas cumplicidades entre nós, que iam desde apoios e incentivos para aguentar tudo de cabeça erguida até ao cartear de Lerpas pela noite fora.

Tardava o que ali nos tinha levado. Os Chip’s estavam lá, alinhados, mas não éramos nós que os voávamos.

(a continuar)
Luís Novaes Tito
#Penduras
[0.009/2017]

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